A Deusa da Minha Rua...
Pai faz homenagem à filha no Jardim Maracanã
David Prado
davidprado@uol.com.br
Começo de ano. Período em que todos recebem os temidos carnês
do IPTU. O que para a maioria é sinal de mais dívidas a pagar, para um morador
de Atibaia o imposto de 2009 representou a realização de um sonho.
No papel, a antiga Rua Cinco ganhara um
nome: “Rua Juliana Peitl Meduri”. A conquista foi do pai, o artesão Márcio Meduri, 49. A jovem morreu em outubro
de 2007, aos 22 anos, vítima de leucemia. A doença começou ainda na adolescência
e piorou quando Juliana trilhava uma carreira promissora na área de recursos
humanos e cursava psicologia.

Depois de vencer as sofridas sessões de
quimioterapia, a estudante enfrentou uma grave infecção, exigindo
visitas diárias ao Hospital das Clínicas de São
Paulo. A luta contra a doença mobilizou a família e amigos.
Conhecido pelo apelido de
Pica-pau, devido ao seu
trabalho como marceneiro, Márcio resolveu buscar informações para dar o nome da
filha à rua onde mora. “As ruas daqui só têm número. Precisava ter um nome”,
lembra.
“Sempre tive vontade de homenagear o meu pai. A gente sempre
acha que os mais velhos morrem primeiro”, lamenta ele. Frente à precoce morte da
filha, Pica-pau mudou de ideia. “Aí eu pensei: vou prestar uma homenagem para a
Jú”. Ele mesmo correu atrás da documentação, foi pessoalmente até a Ouvidoria da
Prefeitura e entrou com o pedido.

A requisição foi encaminhada à Câmara dos Vereadores em
dezembro de 2007, mas não foi votada rapidamente. Sem prazo para resposta,
Pica-pau chegou a ir cinco vezes atrás de um parecer. Mesmo com a demora, ele
nunca pensou em desistir. “Cheguei à conclusão que era um direito que eu tinha e
iria lutar por ele”, ressalta.
Foi quando o pai, orientado a pedir ajuda direta de um
vereador, procurou um morador do bairro que tinha mais acesso à Câmara. José
Freeman encaminhou o texto para a vereadora Georgina Aparecida Pitocco Piniano.
“Apesar de não tê-la conhecido pessoalmente, soube que a Juliana lutou até o fim
contra a enfermidade”, afirma a vereadora.
O projeto virou lei (nº 3.676) em 14 de outubro de 2008.
“Fiquei muito contente porque deu tudo certo”, conta o pai.
Apesar da descrença de alguns vizinhos quanto ao sucesso da
empreitada, Pica-pau diz que a reação da maioria foi positiva. “A princípio as
pessoas demonstraram alegria. Elas acompanharam a história da minha filha”,
afirma.
O pai ainda não foi notificado oficialmente sobre a mudança,
mas já está se adiantando: especialista em marcenaria, o artesão já escolheu
qual vai ser a sua complementação à essa homenagem. “Vou fazer uma placa com o
nome dela entalhado na madeira”, revela.
Juliana Peitl Meduri passa a ser mais um dos homenageados da
cidade e entra para a história de Atibaia. “Ela sempre dizia que um dia seria
alguém na vida“, lembra o pai.
Para Pica-pau, essa homenagem serve como um exemplo de garra
e determinação diante da doença. “Mesmo sofrendo com o tratamento, ela nunca
desistiu da vida. Foi uma guerreira”, conclui.
Legislação Municipal
A atribuição de nomes próprios a ruas, avenidas, repartições
públicas e demais espaços de Atibaia é feita conforme a Lei nº 3.617/07. Segundo
o texto, pode ser utilizado o nome de qualquer pessoa falecida ou que tenha mais
de 65 anos de idade ou, ainda, um sobrenome, desde que seja comprovada a
importância ou relevância deste ato.
Documentação exigida:
Ÿ
Descrição das ações justifiquem a homenagem e uma biografia;
Ÿ
Cópia do atestado de óbito;
Ÿ
Documento indicando a localização exata da área;
Ÿ
Comprovação de que não há outra área municipal com o mesmo nome;
Ÿ
Aprovação expressa de 70% dos proprietários de imóveis do local cujo nome se
pretenda alterar. (Item dispensável no caso de ruas com nomes alfa-numéricos);
O pedido precisa ser encaminhado a um dos vereadores da
Câmara, que o transforma em um projeto de lei. O texto passa por duas comissões
permanentes (Justiça/Redação e Educação) até ir a Plenário num prazo de até 90
dias.
A vereadora Georgina Aparecida Pitocco Piniano ressalta que,
além da homenagem, dar nome a uma rua tem outro fator positivo. “É com um nome
que a rua passa a ganhar sua própria identidade”, diz ela.